Tuesday, November 16, 2010

Dor.

Tudo é suportável até certo momento. Tal momento é totalmente e somente subjetivo. Há seres que aguentam anos de dor, outros menos de segundos, é os chamados "baixo índice de frustração".
Relativo demais. O que faz uma dor não é exatamente o tempo, é a magnitude, a intensidade e a importância que damos à elas.
Costumo dizer que o fim é um fato ocasionado em um segundo. Todo o processo caminha ao fim, é a sina humana morrer, o que não quer dizer que alimentar os momentos de modo que eles fiquem eternos seja babaquice, é somente mais um dos vários jeitos de sentir-se feliz.
Voltando à dor, dói demais se deixar doer assim. Percebi que a pior dor é aquela sem perspectiva de fim, aquela que alimentamos a fim de evitar uma dor maior. Alimentamos a dor de ter diante da provável angústia manifestada ao perder. O sentimento de não ter tanto e temer perder o pouco que tem também pode ser chamado de dor.
No entanto, é necessário doer-se. Nem sempre a menor dor é a melhor, ela pode ser o pior caminho.
Creio que chegou a hora de doer-se, de deixar-se angustiar, pois evitar a angústia não nos trás nada além de mais de mais dor.

Monday, November 15, 2010

Maluco que sonho eu sonhei!

Uma noite dessas sonhei. Não que isso seja algo anormal, pois não é porque não lembramos que não tenhamos sonhado... Enfim, como disse Raul Seixas: "maluco, que sonho eu sonhei!"
Ele começou comigo abrindo meus olhos no sonho, quando os abri vi entranhas, sangue, glóbulos, enzimas... Eu estava dentro de um corpo humano, mais louco ainda, eu estava dentro do MEU corpo!
Depois de ficar um pouco espantado (não é todo o dia que você se vê dentro de si mesmo), eu resolvi me espiar um pouco e logo segui os vasos até o cérebro.
Antes passei pelo coração e vi que sua função é mesmo somente bombear sangue. Naquele momento eu estava dormindo, nenhuma emoção em magnitude diferenciada ocasionavam na emissão de adrenalina em meu sangue, logo, as passadas do meu coração estavam tranquilas.
Achei mais fácil ir pela coluna até o cérebro, complicado andar por lá, solo muito acidentado.
Cheguei à minha querida massa cinzenta e me espantei; Freud estava (infelizmente) certo! Estavam lá as minhas estâncias psicológicas, Id, Ego e Super Ego. Atrás do Ego, que mais parecia um camarada boa praça, tinha dois círculos enormes rosas escrito neles "pensamento" e "sentimento.
_ Posso espiar um pouco essas portinhas rosa? - perguntei ao boa praça
_ Claro que sim! - Disse o camaradinha ao lado de corpo forte e olhar pilantra. Provavelmente esse era o Id.
O rapaz da outra ponta, um bem apessoado, corte de cabelo bem feito e barba arrumada disse um não, o que me levou a afirmar com toda a certeza, sem sombra de dúvidas que aquele era o Superego.
_ Creio que agora não para vocês que devo dar ouvidos - Disse o Ego aos dois. Fale senhor, por que acha que eu deveria deixar você espiar o que há por trás destas portas?
_ Ora, essas portas são MINHAS! E quem tem mais direito delas se não EU?
Id riu e o Superego resmungou algo parecido com "petulante". O Ego sorriu, olhou de canto para o Id e abriu espaço para eu chegar até as portas.
De frente com as duas eu pensei em qual ir primeiro. Sem muito pensar fui à porta pensamento e a abri.
Já lá dentro me senti leve e livre. Letras e cálculos matemáticas pairavam pelo ar, citações de autores, textos que eu tinha escrito conclusões que eu por enquanto tinha de alguns fenômenos da vida, de alguns fenômenos naturais. Saí de lá não muito diferente do que entrei, com ar de "eu já sabia".
Fui sorrindo e de cabeça baixa entrando na sala Sentimentos e quando ergui os olhos levei um choque, um choque tão forte e inesperado que me tirou do sonho e me fez acordar de verdade.
Realmente isso me deixou muito perplexo. Será que minha repressão quanto aos meus sentimentos era tão forte que até no sonho, o lugar mais inconsciente do mundo, a repressão operava?
Sentei-me na cama e levei as duas mãos à cabeça. Pensei no sonho e sorri, lembrei que o sonho era inconsciente e gargalhei ao afirmar para mim mesmo que Freud ainda podia estar errado, que as estâncias poderiam ser somente obra do sonho para deixá-lo mais cômico.

Thursday, November 11, 2010

Amor que muda.

Menino de vista alegre, contente confesso, feliz à beça. O sorriso que nunca lhe saia da face era a sua marca registrada, todos sempre o esperavam para alegrar o ambiente e as pessoas.
Até que garboso, suas qualidades físicas se mesclavam com as suas características intelectuais. Sempre cavalheiro, sempre respeitoso, sempre piadista, sempre menino louco.
Fazia tempo que ele era assim, mas (sempre há um mas) o tempo lhe trouxe experiências que mudaram o jeito dele de ser.
De postura mais ereta, rosto mais sério. As piadas antes frequentes agora ficaram restringiam-se a momentos pacatos com os amigos. Sincero ao cúmulo, atos antes movidos pelo interesse de ganho secundário agora não existiam mais.
Muitos consideraram que ele amadureceu, mas ele no seu íntimo considerava tal mudança como um retrocesso. Se amadurecer era perder a espontaneidade, sentir-se e fazer limitado as ordens do mundo, ele não queria amadurecer. Seu ponto de vista era diferente, ele prezava a aceitação das diferenças ao invés da adaptação forçada ao ambiente.
Não foi o tempo que trouxe as mudanças. O tempo trouxe as pessoas, as atitudes e os entendimentos que o fizeram mudar. Em especial um sentimento, que de tão bom é questionável a posição dele de mau, foi o que causou tal mutação no jeito de ser.
O amor. Sentimento que de tão altruísta muitas vezes anula o amor a si mesmo. Sentimento que trás consigo outros ao ombro, como o medo, o ciúme, a ilusão.
O amor faz sorrir, faz chorar,
faz tremer e faz amar,
mas uma coisa que todos esquecem
é que ele também pode nos fazer odiar.
O menino, que já não era mais menino, aprendeu com as mudanças, cresceu com elas.
Aprendeu que ser espontâneo não é somente fazer o que lhe vem a cabeça, é seguir a tendência natural humana de ver o outro e ver a si e assim ter ações que façam nascer, ou manter, o amor.