Thursday, January 29, 2009

Vodca e sussego

Hey, garçom, manda aqui nessa mesa um pouco de paz, sossego espiritual e um litro de vodca. Manda-me essa vodca para eu, junto com meu fígado, ir morrendo aos poucos.
Hoje estou aqui novamente para lamentar sobre o copo a dor de ter tanta dor assim para doer. Se isso que estou sentindo, esse aperto, sentimento de solidão e falta é tudo saudade, eu quero que ela vá para o inferno. A odeio. Odeio as duas: O sentimento e quem o faz existir.
Era doce. Uma moça doce. Sorriso infantil com malícia adulta. Algo que eu amava. Mulher que eu amei.
Não me lembro mais ao certo quando que o doce começou a me amarrar a boca. Mas mesmo assim não queria deixar de degustar cada segundo, quando os tinha, de prazer em tê-la em meus braços, em meus lábios, comigo.
Ela era doce, ela era amarga. Uma doce amargura que temperou meu coração com amor, meu corpo com desejo e minha mente com pecados, pecados estes que só um louco poderia cometer.
E eu, garçom, vodca e mesa, era louco por ela. Permaneci delirante nesse amor até o dia que fui encharcado por uma série de desilusões.
Desilusões mesmo, pois ela só se tornou amarga por não ser o tipo de doce que eu apreciava. Mas mesmo assim, me dispuz a gostar disso.
Mas pena que a loucura tinha acabado e a amargura se mostrou mesmo algo repugnante. Mesmo assim, não deixei de amá-la, desejá-la.
Não era por ser louco que eu amava, era por amar que me tornei louco.
Cessou, finalizou, morreu.
Gostaria que fosse o vício que adquiri, mas foi à esperança mesmo. Recomponho-me agora com o que me mata, deliciosa vodca.
Pelo menos esse mal só me amarga a boca, não o coração.

Voltar para frente

A cabeça era o peso que modificava a forma original do travesseiro de penas de ganso do jovem que sobre ele pensava. Era seu hábito rotineiro deitar com o rosto sobre o travesseiro e refletir sobre o dia até o momento que não conseguia respirar mais. Era seu pequeno masoquismo noturno e matutino, o qual ele dava a razão de ainda estar vivo, pois, segundo ele, sem essas reflexões ele deixaria de ser ele mesmo; um amargurado.

Dia normal de terça-feira, do qual se reflete, se acorda, reclama do hálito, dos sonhos que teve dormindo, das dores de uma noite mal dormida, do café gelado de ontem que ele não se dá ao esforço de esquentar, só de reclamar. Já dentro do carro e com sua roupa social se prepara para mais um torturante dia de trabalho. Ele se depara todo o dia com a mesma questão: “Onde eu estava com a cabeça quando resolvi fazer psicologia? Talvez eu fosse mais feliz se tivesse continuado burro.”.

Fazia pouco tempo que ela tinha conseguido trabalho naquele posto de saúde público. O posto até que era grande, com muitas alas e quartos, mas ele fazia questão de se restringir somente a cozinha e sua sala. Ele já havia se conformado em morrer como funcionário público, já que não tinha mais clientes particulares, pois seu mau humor não fazia bem nem para as plantas harmonizadoras de ambiente que havia lá.

Justamente nessa terça-feira o dia começou com uma surpresa. E ele odiava isso. Porque tudo não podia ser milimetricamente calculável e previsível como ele fazia questão de ser a sua vida? O corredor que dava acesso para sua sala estava interditado de macas do ambulatório que estava sendo limpo. Ele então pegou o corredor de trás, que na verdade dava até um menor tempo para ele chegar à sua sala, mas como desde o primeiro dia era o outro que ia, era o outro que preferia. Quando chegou, outra surpresa; “sala fechada para dedetização”. Onde trabalharia? Foi direto conversar com a enfermeira e ela respondeu que daqui uma hora estaria liberada, para ele aguardar em algum lugar que logo lhe liberariam a sala de reuniões para os seus atendimentos.

O frustrado psicólogo, de cabelos não tão arrumados em comparação com o status que ela queria apresentar ao usar suas roupas sociais, sentou ao lado de um senhor que aparentava 60 anos;

-Bom dia, moço.

-Doutor, meu senhor.

-Tudo bem, mas não deixou de ser moço, tudo bem?

Ele jurou que se não fosse pela idade do vovô ele teria perdido já dois dentes. – --Tudo, tudo sim.

- Nunca o vi por aqui, é doutor de que?

-Psicólogo, senhor.

-Que ótimo, moço! Como é bom saber de tudo que nos pode levar à loucura, né? Assim você pode ser um louco consciente!

-A vida não é tão simples, senhor. Há coisas bem maiores e mais complicadas de se fazer do que ficar usufruindo da aposentadoria. Ele tinha total certeza que essas palavras deixariam o velho mudo por alguns momentos

-Para ser aposentado ter que ter trabalhado, ora. E o velho sorriu.

-Tem que ter sofrido.

-Sofrimento? Não! Você devia se envergonhar, moço! É tão novo, belo e cheio de saúde! Mas vejo que você tem uma doença incurável.

- Ah é? E qual seria? – O deboche tomara involuntariamente a voz do psicólogo, como um vovô doente poderia lhe dizer o que tem?

-Você tem sofrimento opcional.

-Oh, vejo que é um problema mental, então, né? E quem melhor que eu mesmo para saber disso?

-Alguém que em vez de reclamar do que conseguiu e lamentar pelos caminhos que decidiu não seguir no passado vive feliz por tudo que conseguiu e a ainda sabe sonhar.

Arrumar sua gravata foi a única saída que ele encontrou pra pensar na resposta que daria ao abusado velhinho que parecia querer lhe dar um ensinamento daquilo que ele era formado doutor. Ele até chegou a abrir a boca, mas o senhor puxou o fôlego primeiro e começou a falar:

-Veja como é fácil para todos nós se não conversássemos com qualquer pessoa. Ela passaria por nós e não se intrometeria com gente. Mas também não nos adcionaria qualquer coisa de bom em nós.

-Mas como sabemos se o que o outro tem a falar é bom ou ruim? –O psicólogo sem desejo de ter feito tal pergunta a fez. Ele se sentiu bem e mau ao mesmo tempo. Fazia tempo que não se deixava levar pelos impulsos naturais.

-Não sabemos, mas é essa a graça da vida! Se for bom, amém se for ruim é bom!

-Bom? Como o mal pode ser bom?

O velho riu. Não aquela risada de sarro pela ignorância do doutor que já estava arqueado em seu lado segurando o suporte de soro em meio aos dois para se equilibrar, mas pela satisfação de saber que falaria às frases que mais gostava de dizer:

-De tudo tiramos proveito, até da morte, moço. O lado bom e o lado ruim não estão na situação da sua vida, mas na interpretação que você dá a essa situação.

Como algo tão óbvio parecia tão profético para ele? O psicólogo ficou desconcertado. Mais que milesimamente o seu dia, a sua noite, as suas reflexões, a sua vida passou pela mente e ele percebeu o quão cinza era a imagem, o quão negro estava ficando a cada passo a sua vida e o quão colorido tudo estava ficando quando ele passou a se imaginar sorrindo em cada situação que passou. Ficou se imaginando dando bom dia para todos, dando risada do pneu furado, da criança querendo pegar sua gravata em uma consulta. Ele precisava fazer tudo de novo, tudo que fazia quando novo. Ele afrouxou a gravata no mesmo instante em que se lembrava que não era um ato burro ser psicólogo, era um ato nobre ouvir e ajudar a resolver problemas da vida. Lembrou de tudo e resolveu que por ontem, por hoje e amanhã que faria do positivismo, de início condicionado, pois a casca negra estava dura, seu parceiro.

-Senhor, o que senhor teve para ser assim?

-Tive não, tenho. E a vida me deu meios de ver o lado bom.

-Meios? Quais?

-Os caminhos, as ocasionais imprudências humanas, os out-doors, as pessoas e meu câncer.

Wednesday, January 28, 2009

Unknown Parnasian

Ela não era desse mundo. Muito menos de qualquer outro. No olhar já deixava claro não pertencer a lugar algum. Soberana entre muitos, qualquer uma em si – desdenhava a vida fumando e bebendo em qualquer calçada: nada lhe preocupava. Tragando cigarros fazia poses, como se estivesse na frente de François Truffaut. Com vodka nas mãos, dizia coisas como se fosse protagonista em La Peau Douce. Entretanto, o pano de fundo de suas sarjetas eram apenas morros, não muito parisienses.
Adotou identidades quando descobriu ser adotada. Era um mistério rodeado por fumaça. Uma cortina nunca aberta, e um encanto nunca fechado. Muito nova, já freqüentava bares. Sentava-se ao balcão e pedia doses e doses, tudo pago por bondosos senhores. Na verdade, todos pagos por ela; já que dançava de graça no colo de homens que babavam às suas curvas bem alinhadas.
E assim, nos dias que se sentia bem cantava La Traviatta e se entregava a qualquer um sentindo-se afortunada. Favores que a saciavam, e que ela saciava. Até perceber que poderia beneficiar o corpo e o bolso, com seu apetite enigmático.
A bebida fácil lhe instigou. O dinheiro fácil lhe conquistou. E achava tudo simples, por dar o que nunca havia sido seu: sua probidade.
Os pulmões mais velhos do que ela: ofegavam: pausa!... Apenas para respirar, nunca para pensar. Impulsiva, não escolhia a quem amar.

Hoje ela com a mesma idade dos pulmões, ofega: pausa!... Já não mais consegue respirar, muito menos pensar. Convulsiva, não tem a quem amar.

Monday, January 26, 2009

Nem tão Bom ou Velhinho (no natal ninguém leria)

Eu não acredito mais na integridade do Papai Noel. Não que eu tenha idade para acreditar. Apenas sei que não há mais espaço para o bom velhinho em minha vida. Ele com aquele saco não me engana nem mais um segundo; muito menos com essa historinha de hena que é veado puxando trenó. E ainda vem com falsos pretextos dizendo que se eu não me comportar, não me dará presentes, ou seja; que desperdiçando 364 dias do ano; sendo boazinha, em um dia ele me compensará. Não existem bonecas e carrinhos tão caros que façam valer tal sacrifício. Talvez uma “lipo”, mas comer direitinho já era um dos seus pedidos.
Descobri que na verdade o famoso Santa Claus vive a eterna idade do lobo. Gastando toda a sua verba, cedida pelo Pólo Norte, (lugar onde ninguém nasce ou morre); para comprar jóias e pagar jantares às mocinhas bonitinhas. E eu não incluída em sua lista VIP, acabei sempre com os piores presentes: sempre Barbie e nada de Ken.
Não estou usando as citações já feitas para influenciar ninguém contra o “Bom Velhinho”. Simplesmente sinto-me obrigada a dizer a verdade: acho-o um grande safado, que usa o feriado mais esperado do ano para ser o mais esperado. Ofuscando as razões natalinas. Aumentando o sentimento mercenário em criancinhas.
E só para mostrar seu caráter duvidoso, percebi que dificilmente ele cita sua esposa. Sendo o clássico homem egocêntrico que tenta de qualquer maneira quebrar o a linda frase: “atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Algo assim... Não me lembro.
Talvez ele faça isso por representar apenas o “GGGrande” mal agradecido que é. Afinal: Quem será que lava suas roupas, ou, costura aquela calça ridícula que deve sempre rasgar? Já que vamos combinar: o Senhor Noel não é nenhum geração saúde. Resumindo, com certeza é Senhora Noela quem faz tudo isso: lava, passa e cozinha.
E sei que se fosse ela nos presenteando, eu não estaria aqui frustrada com as “bonecas que falam” que recebi por vários anos. A esposa do bom velhinho saberia que nem toda menina quer ser mãe prematuramente. Entenderia, que nem todo garotinho que recebe bons carrinhos, os deveria ganhar. Para que não sejam estimulados a serem pilotos – que o diga Rubinho.
Espero o dia que a democracia nos dê o direito de poder votar para o representante dos feriados. Já nos deram o direito de votar em Marta Suplicy; então, por que não? E, todas as minhas certezas não rondam o feminismo de que Mamãe Noela agüentaria o tranco apenas por ser mulher, mas sim por saber que apenas as mulheres sabem dar. E depositando minha confiança em Mamãe Noela, espero simplesmente, que não nos mande apenas relaxar e gozar.
ps. Coelhinho da Páscoa não estou muito satisfeita com você tambem não, esses seus chocolates são duvidosos. Prepare-se.