Wednesday, January 28, 2009

Unknown Parnasian

Ela não era desse mundo. Muito menos de qualquer outro. No olhar já deixava claro não pertencer a lugar algum. Soberana entre muitos, qualquer uma em si – desdenhava a vida fumando e bebendo em qualquer calçada: nada lhe preocupava. Tragando cigarros fazia poses, como se estivesse na frente de François Truffaut. Com vodka nas mãos, dizia coisas como se fosse protagonista em La Peau Douce. Entretanto, o pano de fundo de suas sarjetas eram apenas morros, não muito parisienses.
Adotou identidades quando descobriu ser adotada. Era um mistério rodeado por fumaça. Uma cortina nunca aberta, e um encanto nunca fechado. Muito nova, já freqüentava bares. Sentava-se ao balcão e pedia doses e doses, tudo pago por bondosos senhores. Na verdade, todos pagos por ela; já que dançava de graça no colo de homens que babavam às suas curvas bem alinhadas.
E assim, nos dias que se sentia bem cantava La Traviatta e se entregava a qualquer um sentindo-se afortunada. Favores que a saciavam, e que ela saciava. Até perceber que poderia beneficiar o corpo e o bolso, com seu apetite enigmático.
A bebida fácil lhe instigou. O dinheiro fácil lhe conquistou. E achava tudo simples, por dar o que nunca havia sido seu: sua probidade.
Os pulmões mais velhos do que ela: ofegavam: pausa!... Apenas para respirar, nunca para pensar. Impulsiva, não escolhia a quem amar.

Hoje ela com a mesma idade dos pulmões, ofega: pausa!... Já não mais consegue respirar, muito menos pensar. Convulsiva, não tem a quem amar.

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