Monday, August 30, 2010

O perdão.

Quantas desculpas ele já tinha ouvido? Segundo os seus cálculos, acho que por umas quatro, cinco vezes... Mas era essa a palavra que mais saia da boca da menina, dos seus dedos quando escrevia. Parecia, para ele, que era isso mesmo que ela sabia fazer: Equivocar-se e depois pedir desculpas, como se desculpas fosse algo de pedir.
"Depois de tanto desculpas porquê ela continua errando?" Era isso que ele ruminava em sua mente e não conseguia ter alguma resposta cabível.
O erro é subjetivo. Falta de consideração, para ele, é algo muito feio. Desconsiderar o outro, os sentimentos que ele e os que ele ajudou a construir é muito feio, mas para ela, talvez seja algo normal, considerando a falta de responsabilidade que se têm hoje com os sentimentos do outro.
Agora ele não sabia o que fazer, se iria mais uma vez aceitar o perdão. Não perdoar é se machucar, é cutucar o próprio coração com uma agulha por várias e várias vezes. Entretando, ficar perdoando a todo instante é criar o hábito do outro de errar sem consequência.
Ele poz a mão na testa, a esfregou um pouco. Já fazia muito tempo que ele estava pensando... Então decidiu-se: Ele perdoaria, pela última vez.
Afinal, um ponto final em tudo, um dia, é necessário.

Saturday, August 28, 2010

thank you.

Passei a mão nos olhos para tirar deles as últimas lágrimas de mais uma noite triste.
A lembrança do último olhar que se cruzou era triste por não poder ser mais que isso, ma mera lembrança, sem reais possibilidades de renovação.
Lembro-me bem dos meus dedos correndo os cabelos bem penteados, descendo vagarosamento pelo rosto, bochechas. Seguro o queixo dela e deixo escapar um sorriro estalado num choro contido. Mordo os lábios e abaixo o rosto para não me denunciar e ela é quem lança a mão em mim, a coloca em meu peito, depois poe a outra e fala ao sussuro o meu nome. Quando eu olho ela está sorrindo, deita um pouco a cabeça para o lado, deixando a franja tapar-lhe os olhos.
-Tudo tem um fim, você mesmo me ensinou isso.
-Sim sim, mas não pensei que a pratica desse ensinamento viria tão rápida.
ambos sorriram espontaneamente, mas não havia tanta alegria no sorriso, então logo a seriedade voltou a permear o ambiente.
-Então... tchau? Estranho dar um tchau sabendo que será o último...
-Não vamos prolongar isso, já tá doendo aqui.
Meus lábios se direcionaram a sua bochecha, buscaram institivamente a boca dela mas eu os direcionei a sua testa:
-Beijo na testa é respeito - e riu - eu nunca vou me esquecer das suas manias, menino.
Mpe puz a andar após soltar-lhe os braços, segui para casa. Já no terceiro passo comecei a pensar o quanto foi engrandecedor ter aquela mocinha por perto, ouvir, falar, brigar, sentir, repudiar, possuir. Me senti crescido, me senti bem:
-Hey mocinha!
-Sim?! - Ela olhou empolgada, desmentindo nos olhos o pedido de fim que a boca soltou. - Fale, fale!

Eu parei, a olhei, melhor, a admirei:
-Obrigado por me amar.

Wednesday, August 25, 2010

Cada um com sua singularidade dentro da pluraridade que é ser humano.

Sunday, August 15, 2010

O homem e o pássaro.

O pássaro voava e observava do alto qualquer coisa que lhe servisse para montar seu ninho, logo logo a fêmea teria ovos, era preciso ajeitar o berço. Voou que de tanto vai procurar, desce para pegar o pauzinho, leva para o ninho, encaixa as palhas e volta para procurar mais que cansou e resolveu fazer do parapeito de uma janela o seu ponto de descanço.
De frente com a mureta tinha ma janela que estava fechada, mas por ser clara dava para ver o que tinha dentro. O pássaro bisbilhotou com os olhos e o que viu foram livros num canto servindo de pé para uma mesa de centro quebrada, pedaços de papel espalhados pela sala, uma bagunça total. Em cima da mesa e do braço do sofá tinham pratos e copos com restos de alimentos e bebidas. Garrafas de vinho, umas três, estava em volta do homem que estava sentado no sofá verde musgo paralelo a mesa de centro. O passarinho não conseguiu dar o veredito de qual situação era mais lastimável; do cômodo ou do homem. Este estava com a barba grande, mas não um grande arrumado, uma que mostrava fazer tempo não ver nem água para ser lavada. Os cabelos tampavam a testa e as mãos tampavam os olhos, o homem mexia os ombros quando soluçava, estava chorando. Chorava e deixava as lágrimas escorrerem pelas mãos e pingando no suéter da cor do sofá. O homem destapou os olhos e encontrou-se em olhar com o pássaro. eles ficaram se fitando um pouco e o homem começou a pensar sobre o pássaro, ser livre que tem o dom de voar, de fugir para longe quando sente alguma ameaça. Achou bonita a idéia de ter uma companheira para a vida inteira, o casal que se une é unido até a morte. Que bom não raciocinar as vezes, pensou o homem. os pássaros só seguem os instintos, o amor instinto, não são como os homem que consideram ganhos e perdas a todo instante e por isso perdem e acham ganham tanto. E voar, que beleza era voar!
O homem se deprimiu denovo, lembrou-se que não era como o pássaro, ele não teria uma esposa até a morte. O tempo que passaram juntos desgastou o amor que era jurado eterno, o que sobrou dos dois foi o apartamento que comparam juntos, que agora estava com ele porquê ela foi morar com sua mãe, e a lembrança do sentimento.
O homem decidiu que pelo menos uma coisa igual o pássaro podia fazer, correu para a janela, espantando sem querer o pássaro, pos seus pés no parapeito e pulou do quinto andar, pulou para voar para a eternidade.

Wednesday, August 11, 2010

O ponto final

Crescer, eis um mal necessário. Mal? E quanto isso é mal?
Responsabilidades, limites, independência, fases que tem que passar para outras começarem. O ponto final é um acento muito necessário na vida também, não dá para por retiscências em tudo.
Chega um momento que até as coisas que nos dão tanto prazer já não nos cabe mais, pois prender-se a elas é negar-se à outras, ou não deixar-se sentir as novas.
O ponto final significa fim total? É necessário mesmo abandonar as coisas, algumas lembranças, alguns costumes?
Dói-me escrever que sim, de saber que sim, que abandonar é necessário, que crescer é inevitável e que admitir o crescimento é uma escolha, pois as situações podem nos obrigar a acatar responsabilidades de adultos, mas nosso sentimento e percepção podem estar incongruentes quanto a isso.
Crescer, eis um bem necessário. Bem? E quanto bem há nisso?
Sem um ponto final em uma frase não é possível se começar uma nova. A vida é feita como um texto, é necessário acabar uma coisa para assim se começar outra. De forma dinâmica e viva, não necessariamente como um texto onde tudo é bem organizado, mas a metáfora vale, pois como teremos progresso enquanto colocarmos três pontos no que se torna regredido pela simples condição humana de estarmos, enquanto vivos, crescendo?

Thursday, August 5, 2010

Encontro

É difícil falar de encontro sem sair do velho roteiro de "se viram pela primeira vez, se apaixonaram...", mas fico feliz de ter presenciado algo que, pelo menos para mim, pareceu-me fora do clichê.
Ela andava pelo Taquaral, passos largos para trabalhar o bumbum. No seu Mp3 tocava Cidade Negra e na sua mente se passava coisas mil, desde dos antigos namorados, do emprego novo já não tão novo, das amigas fofoqueiras que ela tanto ama, das roupas que ela cobiça. É incrível como as mulheres conseguem pensar em várias coisas, várias mesmo, e não se perderem nos pensamentos.
Enfim, ela estava andando e viu um moço empurrando a bicicleta. Olhou para a bicicleta, para o cara... Que cara! Ombros de nadador, pernas de corredor de 100m rasos, braços de pugilista e olhos castanhos tristes...:
- Quebrou o que?
O rapaz olhou arregalado, como se estivesse acabado de ser acordado... E que bom ter sido acordado por essa loiraça! Ou ele estava ardente de desejo ou essa era mesmo digna de ser desejada, mas ele rapidamente desconsiderou isso pois ainda se entristecia pela bicicleta:
- O pedal, moça. Eu vim aproveitar meu último final de semana de férias, mas vou voltar com prejuízo para casa.
- É Cláudia, moço. -a moça sorriu e estendeu-lhe a mão- Vamos na lanchonete lána frente tomar alguma coisa, já que é seu último dia de férias, vamos fazer algo para te animar.
O moço achou estranho tamanha desenvoltura para falar algo que dá margem aos pensamentos mais loucos possíveis. Parecia irreal, uma mulher linda lhe chamando para tomar um chopp e fazer sua tarde ficar mais bela?! Brincadeira?
- Opa, esqueci... Jorge, prazer. -O rapaz deu a mão para Cláudia e a alisou. Deixa eu perguntar, desculpe se eu for meio rude, mas você faz isso frequentemente, tipo, chamar pessoas que você acabou de conhecer para trocar umas idéias a mais?
- Só quando estou com vontade e quando a pessoa me disperta um interesse imediato.
Cláudia sorriu, arrumou o rabo de cavalo e deu um passo para se aproximar de Jorge, o que esse inevitavelmente olhar de forma indiscreta para o físico da jovem.
Jorge não sabia o que falar, nem ao certo o que pensar, foi então que pensou que não precisava pensar nada, ora bolas, que coisa idiota! Só porque isso acontece de uma em um milhão torna-se impossível?
Jorge sorriu, apontou com a cabeça o barzinho e sorriu novamente para Cláudia, pois não tendo sobre o que pensar resolveu então apenas viver. Vai que ele se desse bem, né?

Wednesday, August 4, 2010

Carta de amor

Pensava eu dentro da minha cegueira que eu vivia o que eu era antes de te conhecer. Percebi que quando abri os olhos comecei a viver de verdade, pois te vi.
Pensei que já havia sentido tudo do mundo. Frio, calor, medo, raiva...
Era tudo uma farsa.
Frio eu senti ao estar longe de você. Calor eu sinto só em pensar que daqui alguns segundos nós estaremos juntos num abraço. Medo, o sentimento que sinto todo dia quando está perto de irmos dormir. Não quero de forma alguma me distanciar de você.
A eternidade se transformou em segundos. Eu quero o universo como o tempo para ficarmos juntos.
Comecei a analisar sensivelmente todos meus sentidos, sentimentos... E percebi que todos se tornavam mais intensos quando no meu pensamento estava você.
Todos os sabores se tornaram mundanos depois que experimentei o sabor de teu beijo.
Nenhum agasalho consegue ser mais quente e confortante quanto o teu abraço.
Nada no mundo se mostra mais belo que tua face, teu corpo, tua alma.
Você tornou-se a minha alma, a qual nunca mais eu posso e nem quero ficar longe.
Obrigado por ter se tornado a minha essência.

Monday, August 2, 2010

Quero lhe fazer sorrir

E começou mais um dia, mais um dia sem grandes coisas para se alegrar. O senhor de vinte e seis anos seguiu seu dia como qualquer outro, a mesma rotina entediante que muitos, se não a maioria, do mundo segue; acordar, banhar-se, arrumar-se e ir trabalhar.
O dia demorou á passar mais passou, foram horas e horas torturantes de papéis, telefonemas, sorrisos forçados, idas e vindas da mesa onde fica o café com bolachinhas.
Enfim o cartão é batido pela última vez no dia, hora de seguir para casa.
Chegou em casa e foi recebido por um abraço de um gurizinho feliz. O homem chegou a sorrir, mas não tanto quanto o pequeno fez ao ver seu pai. Mais adiante, chegando na cozinha ele viu sua mulher na cozinha limpando as mãos no avental. Ela o olhou de longe e sorriu um "boa noite" para ele.
O jovem sentou no sofá e viu o filho brincando aos seus pés, brincando com seus sapatos;
-Hey, mulequinho, o que você tá fazendo?
-Eu tô indo para o trabalho de carro, como você, papai. - O menino falou isso movimentando o sapato para frente e para trás.
-Ai, vai pensando que isso é bom, ir tão longe, sofrer o dia todo e voltar cansado.
-Mas papai, pelo menos você volta!
O homem parou. Ele olhou para a mulher que estava montando a mesa e cantarolando músicas em um inglês brasileiro. Como ela ficou tão linda de uma palavra para outra? Ele olhou para o filho, que brincava inoscentemente com o sapato, como se não soubesse quanto amor ele passou em puras palavras. O menino passou a ser herói, o dia do homem foi salvo as oito da noite.
-Querida, deixe essa comida para o almoço de amanhã, hoje vamos jantar fora, temos uma coisa importante para comemorar.
-Tá louco, Rafael? -a mulher falou com o olhar espantado e com sorriso alegre no rosto- Comemorar o que, homem?
-Há, e precisa de motivo para comemorar?
-Para você, sim.
-Ok, ok. Eu quero comemorar o meu amor por você e por nosso filho, a vida linda que voce me faz ter. Eu quero te fazer sorrir.