Thursday, March 31, 2011

Meu quarto.

Já faz algum tempo que eu voltei para casa e a unica parte que eu exploro é o meu quarto, exploro visualmente ainda, não saio da cama. Não é que eu queira isso, é que meu corpo não se move, o acidente foi mesmo grave.
Pelo o que o médico disse, ocorreu uma espécie de chicotada na minha medula espinhal, ela inchou em uma determinada parte e isso atrapalha o caminho que as correntes elétricas percorrem para realizar os movimentos. Ele também me disse que o meu quadro é reversível , ou seja, eu posso voltar a andar, isso só depende da diminuição do inchaço e da estimulação que eu vou fazendo das partes paralisadas. Segundo o doutor, não dá para determinar quando o inchaço vai sumir, pode demorar um mês, um ano, vinte anos.

Vinte anos...

Essa estimulação é realizada através de fisioterapia, estimulações elétricas e outros tratamentos experimentais. E tudo isso, custa dinheiro, e não é pouco.

Já sou adulto, mas agora estou tão limitado quanto uma criança. Como é frustrante não conseguir limpar a própria boca, não conseguir pegar no colo a minha afilhada... Como ela é linda, sorri para mim, ao contrário da maioria das pessoas ao meu redor que estão com seus semblantes preocupados a minha volta fazendo novena para eu melhorar.
Quando eu cheguei fui levado de cadeira de rodas até o meu quarto e lá alguns parentes ajudaram meu pai a me por na cama.
Essa cena, de ser posto na cama, pode ser algo engraçado quando se tem vinte e poucos anos e acaba de chegar chapadão de uma festa, mas esse não era o meu caso.
Pisco e volto a mim, saio dos meus pensamentos. Estou de volta no na minha cama e ao meu lado está minha mãe me perguntando se eu quero comer, pois caso queira ela traz e me serve.
Mesmo diante dessa minha situação eu tenho esperança e força de vontade que um dia eu voltarei a falar para ela "Espera, mãe, já vou."

Wednesday, March 23, 2011

Melancolia

Entrando pela janela era possível ver a seguinte cena: Um sofá verde de dois lugares ocupados com uma caixa de pizza com sementes de azeitona dentro e um amontoado de papéis. No centro do cômodo havia uma cadeira com Voltaire, Rogers e Pearls servindo como um dos pés que faltavam.
No chão havia um tapete lindo, marrom com tons de azuis formando losangos que eram cortados ao meio por retas vermelhas.
Paralelo ao sofá de dois lugares havia um sofá com três lugares e nele jazia um homem deitado.
Considerando a barba grande, a barriga saliente e o cabelo despenteado era possível dizer que ele tinha por volta dos quarenta anos, que era um daqueles ex-jovens hippies que esqueceu que o tempo passa à todos, mesmo para os mais alucinados.
Mas não. O homem deitado tinha nasceu na década de 80, do tempo que finalizar Street Fighter era iniciação adolescente.
Fazia uns dias que ele não saia daquele cômodo, só fazia isso quando precisava ir ao banheiro, que era na porta a sua esquerda, atrás do sofá.
Ele não queria mais ficar triste como estava, pensou em suicídio mas isso era radical demais, além do mais ele era vivido e estudado por demais para conseguir analisar os danos familiares que isso poderia causar, ele ainda tinha contato com a realidade.
Dando um diagnóstico para o jovem, ele havia se tornado um melancólico. Um pedaço dele foi enterrado junto ao amigo.
Quando ele se lembrava do amigo rindo ao seu lado minutos antes do carro dar várias voltas batendo no chão ele se contorcia, ficava em posição fetal, queria, ele queria mesmo, não ter nascido para assim não ter visto o amigo morrer.
Ele não se sentia culpado, completamente culpado, pois o amigo deixou claro que queria beber, pois era a sua última noite solteiro. Todos os amigos estava em um misto de alegria pelo casamento e tristeza pelo mesmo motivo. Ele seria o primeiro da turma a passar pro time de futebol que antes era formado somente pelos pais deles.
Lágrimas desceram e molharam seu rosto barbado. Era difícil para ele lidar com o choro ao lembrar do sorriso do seu amigo.
"Cara, entenda uma coisa, tudo que está vivo morre, isso é inquestionável e inevitável", era isso que seu amigo sempre dizia, mas precisava ser com ele, justo agora? Justo tão cedo?
O jovem secou as lágrimas e pensou que não podia ficar daquele jeito, afinal o amigo lhe deixou bem claro durante todo o tempo que viveram juntos que a morte não impossibilita os que estão vivo a continuarem vivendo.
Ele virou pro outro lado e se encolheu um pouco mais, forçou os olhos e tentou esquecer esse ensinamento do amigo. Ele não queria lembrar disso, pois a dor era maior que a razão.

Thursday, March 17, 2011

Tristeza.

Jonas não estava num dia bom. Muitas preocupações, daquelas que parecem ser necessidades para ontem, apesar de faltar ainda alguns dias para serem de fato atendidas, apresentadas.
Haviam algumas desilusões também, as de relacionamentos, dos mais diversos relacionamentos, desde o familiar, passando pelo trabalho e enfim chegando ao amoroso (ou a falta dele).
Ele não estava bem mesmo, estava cabisbaixo, com poucas palavras e expressões. Dificilmente se alegrava, estava sempre no amanhã, no triste e penoso amanhã. Pensava no amanhã porque o hoje, para ele, já estava perdido, morto e enterrado.
Ele tentou por a culpa nos outros, na família, nas meninas, no trabalho. Olhou em volta e viu pessoas conversando, outras rindo e se abraçando. Viu meninas se deixando levar pelo papo do rapaz e este sendo apenas cavalheiro. Olhou para o outro lado e viu dois colegas planejando o futuro, os trabalhos, o que fariam e de que forma.
Foi aí que ele percebeu que o mundo não havia parado e nem estava escuro, como o mundo dele estava naquele momento. E mais, ele percebeu que o mundo não parou só porque ele estava triste. Tudo continuou, em plena harmonia.
A tristeza dele atingia somente a ele. Tal sentimento repeli as pessoas, a aproximação existe ou por pena ou por curiosidade, porém não dura muito tempo, pois a tristeza é vista como um vírus contagioso, as pessoas nunca querem ficar assim.

Obviamente que essa não foi a cura das suas dores, mas ao menos iniciou-se o processo para tal, pois a observação o fez compreender que essa tristeza que ele sentia era nada mais que um sentimento egocêntrico que o levava ao um ciclo vicioso de vitimização.

Wednesday, March 16, 2011

Saudade.

Fico pensando o que nos provoca a saudade. Será a ausência do outro ou das atitudes do outro?
Me pego pensando em abraços, beijos, carícias mil. O calor e a maciez da pele, o cheiro dos cabelos, o tato no corpo.
E as conversas, aquelas que duram horas e horas e ao final dela se chega a conclusão que, sendo bem sincero, não falou-se nada de tão interessante, apenas conversou, jogou conversa fora.
Ligações que duram quarenta, cinqüenta minutos, que acabam com aquela briguinha de quem desligará primeiro.
O ciúme, aquele sadio que todo o ser humilde e apaixonado tende a ter.
Pensei na no jogo de sedução e como isso é belo. Um detalhe na roupa da sua cor favorita já é motivo para elogios. Todo o processo, por vezes rápido e por outras demorado, com quase sempre resultado impecável. Uma jogada de cabeça ligeira para o lado e a pergunta rotineira "como estou, estou bem?" E dá - e pode - dizer que não?
Filmes assistidos em conchinha, carícias nos cabelos enquanto se falam...
Agora voltando... A saudade está direcionada à pessoa que proporciona toda essa felicidade ou às ações propriamente ditas? Será que fazemos uma relação Sujeito-ação que nos faz "pensar" que sentimos falta do outro, não de suas ações?
Sabe, na verdade eu não sei o porque de eu estar racionalizando tudo isso, pois na verdade o que eu sinto é falta de disso.
Verdade, sinto falta disso.

Friday, March 11, 2011

_ Deus não existe!
_ Como assim, não existe?
_ Eu lhe digo com toda a certeza que não existe!
O moço piscou e sorriu. Colocou a mão no ombro do amigo e disse:
_ Em que você se baseia para dizer isso?
_ Na ciência, meu caro! Não há provas concretas da existência de Deus! Todo o ecossistema funciona sem intervenção externa. Não há indícios da existência de Deus!
_ Bem... Não conseguir provar a existência de Deus só quer dizer que não conseguiram provar, e não que ele não existe! Talvez por falta de ferramentas, ou por métodos usados, não conseguiram provar a existência ou não de Deus. No entanto, meu amigo, a unica coisa que sei até hoje é que não conseguiram provar nada.
O amigo ficou sério, perplexo e frustado em perceber que seu amigo estava até que certo.

Tuesday, March 1, 2011

Survivor.

"Por volta das quatro da manhã." Foi isso que pensei quando vi o relógio. Já era hora de dormir mas eu estava lá, conversando e rindo da vida.
Os amigos quiseram ir comer e eu imediatamente aceitei. Desci a rua e freei para fazer o balão. Ao lado direito uma luz xenon cresceu em meu retrovisor e ouvi os pneus alheios cantando ao lado do meu carro. Instintivamente pisei no freio, o que não adiantou muito, pois ele era ruim e faz o carro dançar. Essa dança levou a lateral bater de raspão num poste, que fez o carro dançar mais, bater na calçada e virar de ponta cabeça.

Foi assim que morri.