Wednesday, March 23, 2011

Melancolia

Entrando pela janela era possível ver a seguinte cena: Um sofá verde de dois lugares ocupados com uma caixa de pizza com sementes de azeitona dentro e um amontoado de papéis. No centro do cômodo havia uma cadeira com Voltaire, Rogers e Pearls servindo como um dos pés que faltavam.
No chão havia um tapete lindo, marrom com tons de azuis formando losangos que eram cortados ao meio por retas vermelhas.
Paralelo ao sofá de dois lugares havia um sofá com três lugares e nele jazia um homem deitado.
Considerando a barba grande, a barriga saliente e o cabelo despenteado era possível dizer que ele tinha por volta dos quarenta anos, que era um daqueles ex-jovens hippies que esqueceu que o tempo passa à todos, mesmo para os mais alucinados.
Mas não. O homem deitado tinha nasceu na década de 80, do tempo que finalizar Street Fighter era iniciação adolescente.
Fazia uns dias que ele não saia daquele cômodo, só fazia isso quando precisava ir ao banheiro, que era na porta a sua esquerda, atrás do sofá.
Ele não queria mais ficar triste como estava, pensou em suicídio mas isso era radical demais, além do mais ele era vivido e estudado por demais para conseguir analisar os danos familiares que isso poderia causar, ele ainda tinha contato com a realidade.
Dando um diagnóstico para o jovem, ele havia se tornado um melancólico. Um pedaço dele foi enterrado junto ao amigo.
Quando ele se lembrava do amigo rindo ao seu lado minutos antes do carro dar várias voltas batendo no chão ele se contorcia, ficava em posição fetal, queria, ele queria mesmo, não ter nascido para assim não ter visto o amigo morrer.
Ele não se sentia culpado, completamente culpado, pois o amigo deixou claro que queria beber, pois era a sua última noite solteiro. Todos os amigos estava em um misto de alegria pelo casamento e tristeza pelo mesmo motivo. Ele seria o primeiro da turma a passar pro time de futebol que antes era formado somente pelos pais deles.
Lágrimas desceram e molharam seu rosto barbado. Era difícil para ele lidar com o choro ao lembrar do sorriso do seu amigo.
"Cara, entenda uma coisa, tudo que está vivo morre, isso é inquestionável e inevitável", era isso que seu amigo sempre dizia, mas precisava ser com ele, justo agora? Justo tão cedo?
O jovem secou as lágrimas e pensou que não podia ficar daquele jeito, afinal o amigo lhe deixou bem claro durante todo o tempo que viveram juntos que a morte não impossibilita os que estão vivo a continuarem vivendo.
Ele virou pro outro lado e se encolheu um pouco mais, forçou os olhos e tentou esquecer esse ensinamento do amigo. Ele não queria lembrar disso, pois a dor era maior que a razão.

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