Sunday, October 11, 2009

Como surgem histórias de amor - parte II

Isabela estava possessa com o que ele tinha feito
_ Jonas, você dá flores de aniversário para uma amiga minha, para a minha melhor amiga, e quer vir apontando os MEUS defeitos? Como acha que eu me senti ao saber que você foi ontem cedo à casa dela entregar rosas vermelhas como presente de aniversário para ela? Jonas, elas me disse por telefone isso! Como você se sentiria se eu desse para alguém algo que eu te disse que era só pra ser seu?
Jonas já havia percebido que o plano dele já havia ido por agua abaixo. Querendo deixar a amiga dela, que também ela amiga dele, feliz ele acabou produzindo mais uma conversa para ser desconversada. E desconversar era a habilidade que Jonas mais gostava de ter e logo tratou de pô-la em prática:
_ Isa, você diz “eu te amo” para qualquer amigo seu, para qualquer sujeito! Você usa as mesmas palavras para declarar o seu amor para mim assim como para declarar seus sentimentos para um coleguinha. O que acha disso?
Isabela nunca havia pensado nisso, mas não era agora, nesse momento de fúria extrema, que ela pensaria nisso. Ela queria que Jonas se redimisse, admite-se o erro e fizesse algo. Ela não queria mais nada dele, mas ainda o queria. Era complicado, difícil de entender, mas era algo real em sua mente; querer não querendo.
_ É diferente, Jonas. Eu sempre disse que amo meus amigos.
_ Tudo bem, assim como eu sempre dei flores para as minhas amigas!
_ Mas, Jonas, foram rosas vermelhas... VERMELHAS! Onde estava todo o significado que você põe em rosas vermelhas de amor, respeito e tudo mais que você sempre declarava a cada aniversário de namoro?
_ Estavam comigo,Isa. Mas você tem que entende que diferente de você, eu não a quero. Ela recebeu rosas vermelhas porque não tinham amarelas na floricultura!
Jonas já não conseguia mais suportar tanta frustração. Primeiro a amiga dele se mostrou uma tonta, usando de flores para criar rixa entre um casal já não tão estável. Segundo o plano dele tinha se sucumbido com essa surpresa infeliz, sem contar que ele estava cheio de ver toda a porcaria que a vida dele se tornou depois que ele conheceu a Isa; Ele queria construir um amor, queria mesmo, mas era sempre impedido pela imaturidade dela e pela sua preocupação com o julgamento do mundo. De repente Jonas começou a sentir uma angústia no peito, como se estivesse havendo dentro dele uma luta entre duas forças, uma que queria se mostrar e outra que a repreendia. Ele olhou para a Isa e viu que a beleza dela não estava lá, não que ela tivesse envelhecido trinta anos em dez minutos, mas ela estava com a feição de alguém que lhe dava nojo. Jonas pensou “ Que se foda” e então falou:
_Quero ver se tirarem essa sua maquiagem, destravarem esse seu sorriso programado e abolirem os sutiãs de enchimento se você será tão poderosa e confiante assim. Se um dia acabarem com todas as formas de você se mostrar diferente do que é por dentro, minha querida, se você conseguirá suportar dia após dia a sua realidade.
Alívio imediato. Jazia meses que ele reparava o quão falso era a originalidade dela, o quão fraca ela seria caso não fosse bonita. A força dela não vinha de dentro para fora de si, mas o inverso. Ela era como Sansão, mas os seus cabelos eram os elogios do mundo.
Ela não soube o que falar, na verdade ela nunca tinha ouvido aquilo. Tudo bem, muitas meninas já a chamaram de feia, lambisgoia, metida, mas não passavam de invejosas. Já esse menino não. Ele de fato já disse “eu te amo” de um jeito que ela jamais tinha ouvido. Ele de fato olhava diferente para ela, como que os olhos deles vissem por de trás da pele escondida pelo blush, como se seu olhar penetrasse além dos lindos cabelos loiros escovados e hidratados. A percepção dele ia além dos contornos dela, ela sentia que ele via algo mais, ele conseguia ver a alma fragmentada dela. Contudo ela não podia mostrar o que ela estava sentido, ela tinha que se mostrar tão forte quanto uma rocha e tão confiante quanto um Miss:
_Se você acha que eu não sou tão boa assim, vá procurar outra, porque essa mulher aqui, meu bem, tem quem queira.
Ele sorriu de meia boca e ela não gostou disso. Ela sabia o quanto ele era esperto e sabia esconder emoções. Como alguém que era tão romântico podia ser tão frio? Ela observou que Jonas não era mesmo feio. Ele era estiloso, educado nos movimentos, sensual no jeito de direcionar a vista. Ele pôs uma mão na cintura e com a outra coçou a nunca, sorriu de novo e falou:
_ Isa, é inevitável não te desejar. Sua beleza é inquestionável, você sabe disso e cuida disso. Mas será que é ela, a sua beleza, durará toda a sua vida? O tempo vai embora e leva consigo tudo que é belo em você, mas não levará seus problemas embora, porque tua beleza foi obra do tempo e teus problemas são obras do seu modo de lidar com ele. De que adianta amar alguém que não sabe da onde vem o amor? Aliás, Isabela, você me ama mesmo? Ama a mim o que lhe dou por ser quem sou?
A fúria era clara nela. Já não havia mais esmalte em suas unhas, pois quanto mais se prolongava essa conversa mais ela os tirava. A boca já estava amarga com tudo isso. Como ela odiava essa coisas! Falas difíceis, reflexão em momentos tão ruins. Porque será que ele se deliciava tanto em apontar-lhe os defeitos? Parecia que quanto mais ela queria sorrir pelas suas qualidades mais ele lutava para mostrar-lhes os defeitos.
_Jô, se eu sou tão fraca, pré-potente e horrível quanto você fala, porque ainda está comigo?
Ele já sabia o que falar e sabia também que o que falaria não tinha nada a ver com o que sentia. Como sempre ele já tinha na mente tudo pronto.“Como seria bom falar que tudo por tesão sem ser julgado de cafajeste” ele pensava. Ele tinha tudo tão perfeito que de vez em quando ele se pegava perguntando a si mesmo se até os seus momentos ruins foram criações dele só para ter controle da situação, mas ao mesmo tempo que vinha a questão vinha também a resposta reconfortante: “Claro que não”. Ele estava esperando essa pergunta há tempos. Ele não queria ser o responsável pelo fim, por isso esperava por isso. A situação já não era sustentável, ele se via cada vez mais fraco que forte ao estar do lado dela, já tinha percebido que ele a sugava por não ter mais reservas de felicidade dentro de si. Ele sentia estar ainda com ela como uma vingança que ele executava por ter em mente que ela era responsável por sua atual fase frágil, afinal, era ela que ele estava amando.
_ Verdade, por que estou com você mesmo? Ah é, porque eu te amo... Te amava. Não consigo mais, perdi as razões para isso.
Deu-lhe um beijo na testa e alisou-a a face. A viu pela última vez rapidamente, querendo não sentir prazer ao vê-la tão triste quanto ele estava e foi embora, lutando internamente para não olhar para trás. “Será que ela ficou perplexa? Brava? Quem sabe ela estava querendo chamá-lo?” Não... Ela era orgulhosa demais para chamá-lo, ainda mais depois de tudo que ele falou. “Será que ela já tinha entrado e foi mais uma vez chorar e falar mal dele para a mãe?”
Já dirigindo e chorando ele percebeu que deixar esses momentos em sua cabeça não seria nada bom, mas que tirá-los dela não seria nada fácil e para não deixar em sua mente, tudo isso não passaria de linhas rabiscadas em um caderno. Jonas chegou em casa secando as lágrimas e engolindo o choro para que sua mãe não saísse perguntando se era novamente culpa daquela menina que ele estava sofrendo. Entrou em seu quarto e fuçou no seu armário, pegou o primeiro caderno que viu, um verde com alguns desenhos e escreveu:
Dia 08 de outubro de 1998, dia em que descobri que o amor pode sim machucar.

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