Friday, December 17, 2010

Fim.

Ele precisava falar, mas ela nunca deixava, talvez por receio do que ouviria. Ele também não forçava muito para falar pois tinha medo da repercussão, no entanto ele precisava, ele não estava mais conseguindo segurar.
Durante a noite que passaram juntos, conversando, ele tentou ser o mais adequado possível, mas ele tinha consciência que sua insatisfação era aparente.
O jovem se levantou, avisou que ia ao banheiro e logo que voltou avisou que iria embora. A senhorita não fez muita objeção, parecia que ela até queria que ele fosse embora. Se despediram com um beijo e com um abraço seco e ele se foi.
Ela entrou em casa passando a mão na nuca, aquele movimento de "Estou cansada". Pegou sua toalha no varal e foi tomar um banho. Ao entrar no banheiro viu um papel dobrado no canto do armário de escova de dentes, pegou-o e abriu. Era do jovem que acabara de sair.
"Mais uma..." - ela resmungou para si mesma.
Sentou na cama para ler o conteúdo da carta.

"Te amo, isso é fato.
Lembro bem quando lhe vi pela primeira vez e fiquei desnorteado diante de tanta beleza. Lhe desejei para mim, muito.
Fomos nos conhecendo, ligando um para o outro, brincamos e nos insinuamos também.
O desejo junto com alguns outros sentimentos foi desenvolvendo o amor, creio eu.
No entanto, tudo era sempre difícil. Ou por falta de tempo, ou por demais compromissos, ou por idade, ou por qualquer outro limite que era colocado por você e também por mim.
Não lembro o momento certo, mas comecei a me dar conta que a minha função para você tinha acabado. Parecia-me que você não precisava mais de mim.
E o que eu faria com esse amor que foi se construindo com o tempo, já que você não precisa dele? Tentei lhe falar, mostrar-te as minhas vontades, pretensões, sonhos.
Fui cortado, você disse que não estava em seu tempo de ter qualquer relacionamento, mais tarde disse que eu era um rapaz até que bom, mas tinha aparecido na hora errada. Depois disse que adora minha companhia e por fim falou que deveria ter tomado mais cuidado com as brincadeiras para que eu não tivesse me iludido.
Brincadeiras... Meus sentimentos são brinquedos de fácil manuseio.
Pensei em lutar pelo seu amor, mas para isso eu teria que lutar contra você. Teria que me revirar, me transformar e mesmo assim haveria a possibilidade de você ainda não me querer.
Não vejo como ficar contente ao seu lado, querer teu amor e saber que não é para mim que você direcionará tal sentimento. Eu sempre quis isso, que você se permitisse pensar sério sobre nós.
Mas não, seus objetivos são outros e eu não me encaixo neles.
Eu não irei mais lutar por você, contra você para ter algo seu.
Eu não irei mais lutar.
Não irei."

A jovem piscou, olhou para o teto e ficou um tempo assim. Abaixou a cabeça e olhou para o papel novamente.
A carta foi lida, dobrada e guardada em uma gaveta.

1 comment:

  1. Texto envolvente! A cada frase, um suspense, um suspiro e uma descoberta. Parabéns!

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